Pinacoteca de Mauá: 20 anos de arte, conexões e memória
A exposição comemorativa ao 20º aniversário da Pinacoteca de Mauá apresenta o acervo artístico municipal e sua transformação ao longo dos anos. Convida o público a elaborar conexões entre as obras fundadoras e as aquisições recentes, a partir da disposição e das relações afetivas entre elas. Também provoca o olhar para a diversidade poética da coleção – estruturada, em grande medida, por doações e composta por gravuras de grandes nomes da história da arte no Brasil, pinturas em técnica a óleo, acrílica sobre tela e aquarelas de artistas locais, instalações de artistas contemporâneas da cidade e do ABC Paulista, além de fotografias, porcelanas, algumas esculturas e um único têxtil.
Organizados em 13 grupos de relações, os conjuntos de obras ora destacam imagens de festas, encontros e comunhão, como em “Corpus Christi Embu” (1998), de Iwao Nakajima, e “Circo” (2003), de Martins de Porangaba; ora apontam para críticas sociais, raciais e climáticas, como em “Como fazer dinheiro” (2002), de Pierino Massenzi, e “Consumo planetário” (2011), de Dener de Sousa. Apresentam ainda narrativas afro-diaspóricas, conexões atlânticas e atemporais, como nas instalações “Circuito de Axé” (2017), de Talita Rocha, “Olhar do outro, estigma do corpo” (2001-2003), de Nenesurreal, e a gravura “Mulheres do mangue” (1928), de Lasar Segall. Um conjunto de documentos composto por convites das exposições, da primeira às mais recentes, e arquivos de doação de obras atesta o tempo histórico das transformações do acervo. Por fim, a pintura “Puxando a rede” (1984), de Aluísio dos Santos, traduz visual e poeticamente o espírito do acervo: uma coleção diversa, construída por articulações, organizações e esforços coletivos de artistas, colecionadores, familiares e pesquisadores. Pessoas que integram e impulsionam uma rede dedicada à criação e ao fortalecimento da ideia de uma Pinacoteca para todos, com a identidade cultural de Mauá somada à rede de relações que constroem a cidade e o acervo. Pessoas que almejam construir uma instituição referência de pesquisa e preservação de patrimônio cultural do Brasil.
Curadoria
Cecília Camargo e Maria Luiza Meneses
Crédito fotográfico: Claudia Melo
Duas décadas de conexões, memórias e arte
Exposição comemorativa aos 20 anos da Pinacoteca de Mauá conta com mais de 60 obras que revelam a trajetória e a relevância artística da cidade do ABC paulista.
por Taís Regina
É papel dos museus acompanhar os debates dos contextos contemporâneos, transformando-se continuamente ao indagar de que forma a população se percebe, deseja ser representada e se identifica. Por esse motivo, uma pinacoteca tem o poder de moldar e selecionar o que faz parte da história e identidade de uma cidade, de um território, de um povo.
“Se a música expressa a identidade, a memória e o sentimento através do som, as artes visuais apresentam a visualidade, ou seja, a imagem. Ela tem um poder muito grande, afinal é, antes de tudo, uma pré-linguagem. Não é necessário saber ler para compreender uma imagem, ao contrário de um texto que exige habilidades de leitura para ser entendido. A imagem chega antes do texto”, explica Maria Luiza Meneses, curadora da exposição.
Portanto, a imagem, sendo ela pré-linguagem, forma o imaginário das pessoas que não sabem ler, pessoas analfabetas, por exemplo. “Mesmo que você veja a imagem rapidamente, ela se fixa no pensamento. Nesse sentido a imagem exerce um grande poder na produção de imagem de um povo. Nesta exposição comemorativa, a pinacoteca de Mauá se torna o espaço de reunião e organização das imagens que narram a memória e a identidade do povo de Mauá”, completa Maria.
Pinacoteca de Mauá: 20 anos de arte, conexões, memórias
O papel da curadoria é fundamental para determinar como as obras irão dialogar com o público, e de que maneira o acervo apresentado se comunica com o agora.
“Apesar de estarmos olhando para uma coleção de 20 anos, buscamos apresentar uma narrativa e uma organização visual para que as pessoas se sintam conectadas. Esse é o papel da curadoria, tentar conectar o visitante com a coleção”, afirma Maria.
Nesse sentido de se comunicar com o presente, a exposição apresenta mais de 60 obras de diferentes períodos que dialogam entre si. É o caso da obra de Lasar Segall, datada de 1928, que apresenta mulheres em situação de prostituição, e a série “Oxum” de Talita Rocha, que visa debater temas como direito à memória e à ancestralidade, apagamento e miscigenação racial no Brasil.
São obras distintas que se unem em torno de um mesmo propósito: provocar debates sobre questões contemporâneas e sobre a posição política da arte, que na maioria das vezes ganha relevância apenas no eixo Rio-São Paulo.
Existe uma ideia coletiva de que a arte só acontece no contexto dessas duas capitais. Dessa forma, cidades como Mauá são reduzidas a cidades dormitório, cidades industrial – leia-se sem cultura, desprovidas de arte. É por isso que na exposição de 20 anos optou-se por contar a história da cidade, por meio de obras que retratam o cotidiano.
“A história contada pelas artes, a partir da perspectiva dos artistas sobre Mauá, de forma a aproximar e criar uma relação de afeto entre os moradores e a cidade. Isso porque a arte adiciona uma camada de poesia e de beleza à realidade, imprimindo e gerando novos significados”, enfatiza Maria Luiza.
Por isso a exposição recebe o nome de “Pinacoteca de Mauá — 20 anos de arte,conexões e memórias” . Conexões pensando nas relações determinantes para a criação e continuidade do acervo. Memória da população de Mauá, do acervo, da arte brasileira. Arte como palavra e sentido que costura tudo.
Acervo e restauro
A exposição comemorativa ao 20º aniversário da Pinacoteca de Mauá é uma oportunidade única para explorar a trajetória do acervo, destacando relações afetivas entre obras e enfatizando a importância da comunidade na construção da instituição. E também de conhecer a diversidade de técnicas e suportes, incluindo telas, gravuras, esculturas, instalações e têxteis.
Flavia Santos, profissional responsável pela restauração de 25 obras disponíveis na exposição, conta que seu trabalho começou com uma visita ao espaço da reserva técnica para verificar o estado de conservação das obras em geral.
Durante dois finais de semana, um grupo de oito pessoas se reuniu na Pinacoteca Mauá, para higienizar e adequar o acondicionamento das obras que estavam armazenadas na reserva técnica de forma incorreta. Para garantir a segurança do trabalho e proporcionar tranquilidade aos frequentadores do Teatro Municipal, que compartilha o espaço com a Pinacoteca, foi necessário realizar o isolamento das áreas pertinentes do local.
“O momento de higienização e organização da reserva técnica foi uma oportunidade única de conhecer a história e importância das obras, a partir do convívio com pessoas que têm conexão com o acervo, com a Pinacoteca Mauá e com a própria cidade. Em paralelo, selecionamos e transportamos as obras selecionadas para o ateliê para iniciar o processo de restauro em si”, relata Flávia Santos.
Um dos desafios enfrentados pela equipe foi a contaminação de grande parte do acervo por cupins. Flávia conta que, na ocasião, optaram por não fazer nenhum tipo de fumigação, porque venenos em geral são tóxicos e cumulativos. Como solução, a equipe indicou à Pinacoteca de Mauá a realização de um processo de radiação – tratamento em que um irradiador emite raios gama sobre lotes de obras ou livros, eliminando qualquer tipo de fungo ou cupim, ou outros agentes, sem que haja acúmulo de radiação.
Ela acrescenta que é crucial realizar esses processos de restauração para que as obras possam ser apreciadas pelo público, em vez de permanecerem guardadas em uma reserva técnica.
“O processo de conservação e restauração dessas obras é de extrema importância, pois contribui para a preservação desse acervo como parte integrante e memorial da cidade de Mauá e de seus habitantes. Além disso, melhorar o espaço da reserva técnica também permite que a Pinacoteca Mauá seja mais visível para o público que frequenta o local, e para aqueles que nem sabiam da existência da Pinacoteca Maior”.
A exposição “Pinacoteca de Mauá – 20 anos de arte, conexões e memórias” tem entrada gratuita e livre para todos os públicos. A visitação acontece até o dia 04 de maio, de segunda a sábado, das 9h às 18h.
Ficha técnica
Gestão executiva e proponente
Maria Luiza Meneses
Pesquisa e curadoria
Cecília Camargo
Maria Luiza Meneses
Assistência de pesquisa e curadoria
Diego Lorena
Produção de exposição
Barbara Ivo
Assistência de produção
Victor Santos
Arquitetura de exposição
Fernanda Gomes
Educativo
Elidayana Alexandrino
Texto crítico
Luciara Ribeiro
Conservação e restauro
Flavia dos Santos
Expografia
Chorão U.E.R
Mônia Campos
Wellington Luz (assistência)
Giovane Ramos (assistência)
Casa da Costura Magali
Montagem fina
Ladun Produções e Montagem
Comunicação
Estúdio Verbo
Coordenação geral – Carol Gutierrez
Identidade e Comunicação visual – Rodrigo Masuda
Assessoria de Imprensa – Luiz Soares
Redes sociais – Alice Julião e Taís Regina
Fotografia
Claudia Melo
Contabilidade
Carol Muniz
Participação especial
Samba Lenço de Mauá